Formado na base do Vasco e com sete convocações para a Seleção Brasileira, Anderson hoje é consultor do beIN Sports da França, canal que transmite o Mundial do Catar para os franceses. Confira a entrevista:
Flashscore: O Brasil chegou ao Catar com bons resultados recentes na mala. O que você sentiu da Seleção na primeira partida no Mundial?
Sonny Anderson: A primeira partida é sempre a mais complicada. Muito poucas equipes na competição começaram bem no primeiro semestre, com exceção da Espanha. Mas no final, achei que foi um bom jogo, porque assim que o efeito Copa do Mundo passou, no segundo tempo, vimos um Brasil que estamos mais acostumados a ver. Mesmo que ainda não seja a melhor versão, mas foi muito melhor do que na primeira metade. Pessoalmente, estou bastante confiante. Esta é uma equipe que estava sob muita pressão, porque todos nós falamos sobre eles e os colocamos como favoritos, porque a Seleção realmente impressionou nas eliminatórias Os jogadores, cada um deles, estavam em boa forma em suas respectivas ligas. É sempre complicado iniciar uma competição como esta.
Para ganhar uma Copa do Mundo, você precisa de um grupo forte. Eles têm individualidades, é claro. Mas você vê um núcleo que vem se formando há algum tempo com Neymar, Thiago Silva, Marquinhos, Danilo, Casemiro, e outros. Você acha que eles têm coletivo para chegar até a final?
O grupo do Brasil é um grupo que já existe há muito tempo. Foi uma das escolhas de Tite quando ele chegou. Muitas vezes são os mesmos jogadores que são chamados, e isso significa que ele tem que ter um coletivo. E é uma geração que se dá bem. Neymar é a estrela do show e, na frente, ele tem um bom entendimento com os jovens jogadores. Temos também Casemiro e sua serenidade, depois Thiago Silva, Marquinhos e Danilo. Atrás deles estão os jogadores com experiência. E, na frente, é a juventude que fala. É um grupo que vive super bem e é um grupo, como eu sempre disse, que está em uma missão para ganhar a Copa do Mundo. Ouvimos isso após a partida contra a Sérvia, alguns jogadores disseram: "temos sete batalhas para vencer, já ganhamos uma, temos que ganhar mais seis". Eles estão em uma missão para ganhar a Copa do Mundo e este é um grupo que sabe o que quer. A primeira partida foi complicada porque as emoções dos favoritos nem sempre são fáceis de administrar. Mas isso passou. E, para a segunda partida, eles certamente estarão mais confortáveis.
Vamos falar de Richarlison, que marcou dois contra a Sérvia. Temos a sensação de que o Brasil encontrou um 9 que se encaixa na equipe. Ele é um menino que joga sem pressão, tem 39 convocações e marcou 19 gols. Como ex-atacante, o que você acha deste jogador e de suas atuações pelo Brasil?
Ele não é um jogador novo para a seleção. Suas primeiras aparições foram discretas, mas agora Tite o integrou em um sistema que lhe convém perfeitamente. Com três jogadores na frente, mais Neymar atrás. Ele pode não ter a qualidade que Romário, Bebeto ou Ronaldo tinham na frente, mas ele é essencial no que Tite pede. Quando Vinicius e Raphinha criam chances pelos flancos, ele tem que ser aquele jogador que estará na frente, finalizando, na frente do gol. É ele quem vai criar espaço para os outros ou estar lá para finalizar. E foi isso que ele fez no primeiro jogo do Brasil e isso é o que Tite esperava dele. Ele é o jogador perfeito para o sistema que Tite colocou em prática.
Neymar sofreu uma lesão no tornozelo contra a Sérvia, e pelas fotos que vimos parece bastante sério. O que você acha que a ausência dele significa para o Brasil?
Não seria coerente dizer que a Seleção pode ser campeã e que por uma ausência, tudo mudaria (risos). É claro que é uma desvantagem porque sabemos como Neymar é talentoso e sabemos do que ele é capaz. Vimos isso no primeiro gol contra a Sérvia. Estas são as qualidades de Neymar: ele sabe como sair da marcação, como acelerar e como entregar boas bolas. Portanto, é claro que o time vai sentir a sua falta. Mas, em 1962, o Brasil ganhou a Copa do Mundo ao perder Pelé no primeiro jogo. Podemos encontrar um Paquetá, podemos encontrar um Vinicius ou um Raphinha que será decisivo. O Brasil tem os jogadores para vencer a Copa do Mundo. Existe um grupo coletivo e forte. Imagino um meio-campo com Fred, Casemiro e Paquetá, e isso é um meio-campo bastante coerente. Há jogadores para substituir Neymar e jogadores para ganhar a Copa do Mundo. Eu não estou preocupado. Com Neymar, é mais fácil vencer. Sem ele, não é tão fácil, mas pode ser feito.
Você acha que Vini Junior pode ser o líder desta equipe na frente se Neymar estiver fora?
Ele conseguiu isso no Real Madrid sem Karim Benzema. Então, ele pode fazer o mesmo no Brasil. Ele é um jogador que tem esta qualidade, como muitos jogadores de hoje. Você pode vê-lo na equipe francesa com Mbappé, Coman ou Dembele e no Brasil com Raphinha, Antony ou Vini. É esta geração de jogadores que pode fazer a diferença com a bola nos pés, que vão muito rápido e que sabem como administrar esta velocidade com técnica. No segundo tempo contra a Sérvia, ele teve um pouco mais de espaço e encontrou a solução para o Brasil. Mas eu acho que ele pode fazer isso, sim. Mas espero um pouco mais do Raphinha.
Pessoalmente, fiquei bastante desapontado com seu jogo...
Está de acordo com suas últimas apresentações com o Barça.
Com Marquinhos, Thiago Silva e Casemiro, o Brasil está bem protegido, não?
O problema que o Brasil tinha antes era que eles queriam jogar para frente, mas a equipe estava tomando muitos gols. Há algum tempo, o Brasil não faz muitos gols com esses jogadores. Eles são jogadores experientes, bons defensores. Casemiro não se importa em levar um cartão, como Thiago Silva ou Marquinhos. A única coisa que eles querem é defender, sabendo ainda que Danilo e Alex Sandro, ao lado, também são jogadores que defendem. Se você quer ganhar uma Copa do Mundo, você precisa ter uma boa base defensiva para que os atacantes possam jogar. Mas repito, eu vi muitos dos jogos do Brasil antes do jogo contra a Sérvia, e até mesmo os atacantes e meio-campistas defendem. Isso faz com que o grupo inteiro e os jogadores de trás estejam muito mais relaxados para recuperar a bola, pois há uma pressão que é feita pelos jogadores da frente. É isso que Tite quer e é graças ao seu trabalho. Se eles querem ganhar jogos, têm que defender todos juntos. Quando todos vocês defendem, estão mais próximos uns dos outros para atacar. A tarefa é mais fácil.
O Brasil tem uma primeira final contra a Suíça na segunda-feira (28), já que se vencer está classificado para as oitavas. Mas, contra os suíços, nunca é fácil. Eles defendem bem e são eficientes. Como você vê esta partida?
Nada é simples nesta Copa do Mundo (risos). Para ganhar uma partida, nada é simples. Você pode colocar uma nação que é historicamente melhor contra outra, e eles podem perder um jogo. O Brasil tem que entrar no terceiro jogo já classificado. Essa é a maneira ideal de se preparar para as oitavas de final. Portanto, sim, é complicado contra a Suíça. Houve momentos no passado em que a Suíça dificultou as coisas para o Brasil. Mas agora é diferente. Eles vão fazer de tudo para chegar à final e vão fazer de tudo para conseguir que Neymar jogue nesta Copa do Mundo. E isso vai começar contra a Suíça, o objetivo é qualificar-se para que Neymar possa pensar em sua recuperação para as oitavas.
Para finalizar: o que você achou da equipe francesa até agora?
Estou impressionado no sentido de que começou mal contra a Austrália cedendo o primeiro gol, mas houve uma reação posterior com os líderes da equipe, como Griezmann e Rabiot. Você pode ver o número de lesões que eles sofreram e, mesmo assim, eles permanecem competitivos. Defensivamente, está ficando cada vez melhor. Gostei do jogo da Upamecano, que está ficando mais forte. Tchouaméni também. Podemos ver que a Dembélé está começando a se soltar. A equipe está começando a crescer em força pouco a pouco e é isso que Didier Deschamps está fazendo. Se continuar assim, pode chegar até a final.