Levantador Índio conta como joga com a depressão: "Me dou uma chance diariamente"

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Levantador Índio conta como joga com a depressão: "Me dou uma chance diariamente"

Índio ficou mais de 2 meses longe das quadras
Índio ficou mais de 2 meses longe das quadrasMourão Panda/América Vôlei
Um dos principais nomes do América Vôlei, o experiente levantador Índio (32) conta em entrevista exclusiva ao Flashscore que caiu em depressão, apesar da carreira bem-sucedida e de ser uma pessoa "de bem com a vida". O jogador também revelou qual é sua tática para lidar com a doença.

Índio sempre se julgou um cara positivo, amigo de todos. Mas a pandemia apareceu em momento conturbado para o atleta. Após sofrer problemas de saúde, ele voltou a viver um cenário bem familiar para ele no Brasil: o atraso de salários e a insegurança profissional. 

Aliado a isso, a esposa, com Covid-19, foi internada em estado grave e correu risco de morte. Com uma trajetória longe da família desde os 15 anos devido ao sonho de ser jogador profissional, Índio passou por situações difíceis que contribuíram para o quadro. 

A combinação destes fatores foi demais para o rodado Alexsandro Vicente, natural de Matozinhos-MG, com passagens por times de dentro e fora do país. No vôlei gringo, atuou na Hungria e Sérvia. No Brasil, defendeu os extintos RJX-RJ e Natal-RN, Minas-MG e Anápolis-GO. 

"Foi algo que nunca imaginei que fosse passar. Tenho pessoas com depressão na família e achava algumas atitudes exageradas. Sempre fui um cara participativo, com postura de líder e positividade. Até pelo meu perfil, era algo que eu não esperava. Não queria fazer mais nada, nem ver ninguém", relata. 

Índio defendeu times da Sérvia e Hungria
Índio defendeu times da Sérvia e HungriaMourão Panda - América

SOS

Índio entrou em um estado que mostrava que uma ajuda externa era necessária. A única presença que aceitava era da esposa, acordando com frequência à noite e tendo crises de choro e ansiedade. O jogador não conseguia permanecer em locais fechados e o medo de ficar sozinho era constante.

A falta de sono afetou seu desempenho nos treinos e Índio foi afastado do grupo para se tratar. 

Sem Índio, a missão do América na Superliga ficou ainda mais complicada. Desde a primeira rodada da Superliga que a equipe de Montes Claros ocupa as últimas posições, lutando contra o rebaixamento. Com a fase de classificação perto do fim, o time de Norte de Minas está perto de cumprir o maior objetivo: se manter na elite. 

"Ele fez falta, é um jogador que conhece bem a Superliga. Eu o coloquei como capitão quando cheguei, ele veio para ser um dos pilares do time. Pelo convívio que temos com os jogadores, identificamos que ele não estava bem e a situação ultrapassou o meu conhecimento.

Procuramos um especialista para ajudá-lo, que nos orientou a deixá-lo de fora das atividades por um período indeterminado. Aos poucos, ele foi retomando a parte física, inicialmente afastado dos outros jogadores, no tempo dele, para ele pudesse se sentir seguro. Não poderíamos apressar nada", comenta o técnico Marcos Pacheco. 

O retorno de Índio aconteceu na vitória contra o Minas, no dia 29 de janeiro, um dos jogos mais marcantes do MOC na temporada, conseguindo resultado importante para se afastar do risco de rebaixamento.

Em viagem recente para um jogo fora de casa, Índio não se sentiu seguro e pediu para não estar com o elenco, com sua decisão sendo respeitada de imediato pela comissão técnica. 

Ausência, tratamento e ressignificação

Foram mais de 60 dias fora das quadras, que lhe fizeram ter sérias dúvidas sobre seu futuro dentro do vôlei, aos 32 anos, já em fim de carreira. Com ajuda de um psicólogo, as dúvidas se transformaram em motivação para não permitir que a depressão tomasse conta. 

"Não tinha mais vontade de jogar. O MOC me deu todo o suporte, mas eu ouvia a palavra 'vôlei' e começava a tremer. Antes da terapia e dos remédios, eu acreditava que não pisaria novamente em uma quadra. 

A minha história me permitiu voltar, foi ela que ressignificou tudo. O que construí, até hoje, se deve ao vôlei. Não podia me dar por derrotado e aposentar desta forma, sabia que precisava me reerguer, ver até onde vou", conta.

"Eu me dou uma chance todos os dias, buscando uma performance melhor. Muitas vezes, não quero estar lá, mas luto contra essa vontade. Eu não sou assim, apenas estou assim", afirma. 

Aprendizados

Índio precisou olhar pra dentro de si para não deixar a depressão o levar para um buraco ainda maior. 

Não faltaram aprendizados na vida do jogador, que segue em tratamento, sabendo que os sintomas podem aparecer a qualquer descuido da mente e da alma. "Aprendi que não preciso absorver muita coisa, devo falar o que penso e expor minha opinião", disse.

Tenho um melhor cuidado com sono e alimentação, faço rotinas de mentalização que me ajudam. Quero voltar a alcançar meu melhor em quadra. Foi preciso perdão e aceitação para me reerguer, dar um outro sentido para os traumas do passado e trazer as coisas boas para o presente", ensina.  

As lições aparecem também para todos que tiveram a oportunidade de conviver, de perto, com o incidente. "Esporte de alto rendimento exige muito, a pressão é grande o tempo todo sobre várias situações. Somos profissionais e também pessoas. Fatores da rotina interferem no rendimento, é preciso estar atento aos sinais", pontua Pacheco.