As insinuações de que o Água Santa seria o "time do PCC" começaram logo após a profissionalização do clube, em 2012. Os boatos alegavam que o Netuno era financiado pelo tráfico de drogas e que a organização usava o time para lavar dinheiro.
É verdade que o presidente do time, Paulo Farias Korek, apareceu algumas vezes nas páginas policiais nos últimos anos, mas as alegações nunca foram comprovadas.
"Pessoas mal intencionadas espalharam esse boatos porque o time é de Diadema. E também foi espalhado por pessoas que são do time rival, o Clube Atlético Diadema. Eu era sócio-fundador lá e teve um rompimento. Então saímos, assumimos o Água Santa e começaram esses boatos", disse Korek ao site Terra em 2015, ano em que o clube conseguiu seu primeiro acesso para a Série A1 do Paulistão.
"Mas hoje não existe nenhum tipo de facção criminosa dentro da diretoria ou do clube", afirmou ele à época, sugerindo que a relação com o PCC havia sido inventada pelo fato de a cidade do ABC Paulista ser uma das mais violentas do Estado.
Ônibus, futebol e assassinato
A suposta conexão entre a facção e o Água Santa é o presidente Korek. Isso porque ele também é dono de uma empresa de transporte público que foi investigada pela Polícia por envolvimento com o PCC.
Segundo o Ministério Público do Estado, membros da organização criminosa administram cooperativas de ônibus na Grande São Paulo. E a empresa de Korek, chamada de A2 Transportes Ltda., foi alvo de investigação da Polícia Civil em 2014. Os policiais suspeitavam também que integrantes do PCC estariam envolvidos com equipes de futebol da capital.
Dois anos depois, o presidente do Água Santa foi investigado sob a suspeita de participar do plano de resgate de um preso ligado à facção, mas acabou absolvido por falta de provas.
Em 2020, veio mais um golpe na imagem do clube de Diadema. O empresário José Antônio Guerino, sócio de Paulo Korek na A2, foi morto com tiros de fuzil em um bar da cidade. A polícia chegou a dizer que Guerino era cartola do Água Santa, mas o time desmentiu.
O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) afirmou que o sócio de Korek tinha antecedentes criminais e era ligado ao PCC.
A A2 não foi indiciada e continua ativa, e Paulo Korek segue como presidente da empresa — segundo o ConsultaSócio, ele é sócio de outras cinco firmas em seu nome, incluindo o Água Santa.
Final e desabafo
Na Vila Belmiro, após a vitória contra o Bragantino na semifinal, o presidente desabafou: "Um time de uma folha humilde chegou por causa dessa união que a gente tem. Eles não sabem o quanto a gente trabalha todos os dias. Se soubessem, não diziam que esse time é da porra do PCC”.
Korek reafirmou em entrevista ao Estado de S. Paulo, nesta quarta-feira (22), que as alegações são "preconceito".
"É um time humilde, sim. É um time que vem de uma cidade carente, sim. Mas é um time com muito trabalho e muita honestidade. Não é à toa que a gente está aí na final do Campeonato Paulista”, disse.
“Enquanto nós não tínhamos visibilidade, a gente suportou isso sempre dentro do nosso coração. Eu quero crer que é por conta de a gente ser de uma cidade humilde, que realmente já foi tida como a mais violenta do Brasil até os anos 2000″, acrescentou.
O Ministério Público continua investigando a conexão entre o PCC e empresas de transporte na Grande São Paulo. O presidente do Netuno, porém, não está mais no radar da Justiça, segundo fonte no MP ouvida pelo Flashscore.
Fundado como time de várzea em 1981 perto da Estrada Água Santa, em Diadema, o clube do ABC vai jogar na próxima semana sua primeira final de um campeonato da primeira divisão. O adversário será o atual campeão Palmeiras.
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